Depois de acordarmos numa quarta-feira e irmos dormir na terça (é o que acontece quando se dá a volta ao mundo nesta direção, passando a Linha Internacional da Data!), chegávamos finalmente à tão esperada Polinésia Francesa. Passamos dois dias a recuperar desta confusão temporal cósmica no Tahiti e estávamos prontos para começar a saltar entre as várias ilhas deste arquipélago. A viagem até ao aeroporto revelou-se logo um bom presságio, pois apanhamos boleia de um Taitiano reformado, conversador, com uma grande admiração por Portugal, de quem ficamos logo amigos e que partilhou connosco inúmeras dicas e sugestões para os dias seguintes. Até combinamos encontrar-nos dali a 3 semanas, quando regressássemos à ilha principal!


Assim que chegámos a Moorea fomos dar um mergulho na praia pública enquanto fazíamos tempo para a hora de check-in. Vinte minutos a pé com as mochilas às costas debaixo do sol polinésio custaram, mas valeram a pena, porque parecia que estávamos numa piscina, tal era a cor e a temperatura da água. Mas esta tinha corais, peixes e até raias! Depois do almoço voltamos a tentar apanhar boleia, pois parecia ser uma boa aposta nestas ilhas, e o orçamento já começava a apertar... Nem 5 minutos esperamos e já um local chamado Ronaldo nos deixava em frente ao caminho de pedras que iria dar ao nosso airbnb. Assim que chegamos, instalamo-nos num acolhedor bungalow tradicional e adormecemos ao som da chuva, que poucas tréguas deu até à tarde do dia seguinte. Não nos queixamos, pois o que realmente queríamos nesta altura era descansar. O bungalow tinha um terraço com uma cama de rede, bom Wi-Fi e um livro que a Ana Teresa já queria ler há séculos. Que chatice esta chuva não parar!


Mas acabou por parar e, depois de caminharmos até à cascata mais próxima, decidimos voltar à praia do primeiro dia. Mais uma vez de dedo esticado, não demorou muito a parar um carro meio tunning com mais um local simpático. Chamava-se Vaiti, pertencia à equipa de râguebi da ilha e tinha acabado de jogar contra o Tahiti, portanto era hora de ir festejar com todos os outros jogadores e respetivas famílias para a mesma praia a que nós queríamos ir. Perfeito! Contou-nos que os Tupa (caranguejo em Taitiano) de Moorea são conhecidos por serem a equipa que melhor recebe os adversários, pois independentemente do resultado, há sempre um piquenique na praia para todos depois do jogo. E também nós tivemos direito a almoço patrocinado por eles, incluindo cervejas! Satisfeitos e refrescados depois de mais um mergulho, preparávamo-nos para sair e arranjar outra boleia, quando o Vaiti nos disse que uma amiga também se ia embora e vivia mesmo perto do nosso airbnb. Mais uma vez, perfeito! Qual não foi o nosso espanto quando ainda acrescentou "E ela é portuguesa!''. Como assim?? A rapariga contou-nos que os pais eram portugueses que tinham emigrado para França, e apesar de já praticamente não falar português, até tinha estudado em Lisboa, antes de se mudar para o Tahiti e mais recentemente para Moorea. Mais espantoso ainda foi que a família era originalmente de Espinho, portanto fomos o resto do caminho a conversar sobre Gaia, Miramar e até sobre a Praia do Senhor da Pedra. Isto numa pequena ilha perdida no meio do Pacífico. Repetimos: o mundo é minúsculo.


No último dia, enquanto nos dava boleia até ao aeroporto, o nosso anfitrião ia-nos dizendo que domingo era dia de as pessoas venderem comida na rua, principalmente peixe. ''Ali vendem bonito e acolá atum. No bacalao!'' - riu-se enquanto nos contava da sua viagem a Lisboa há uns anos, em que durante os 4 ou 5 dias que lá esteve praticamente só comeu bacalhau. “Quando voltarmos a Moorea, trazemos-lhe um bacalhau!”, disse o Pedro. Ainda bem que a Ana Teresa estava de óculos de sol, porque essa frase só a fez pensar em todos os sítios onde tinham estado e queriam voltar um dia, e em todas as pessoas que tinham conhecido, mas ao mesmo tempo das saudades de Portugal e da Noruega. Este último mês de viagem está a deixar-nos nostálgicos…


-------------------------------------------------------------------------------


After waking up on a Wednesday and going to sleep on Tuesday (that's what happens when you go around the world in this direction, crossing the International Date Line!), we finally arrived at the long-awaited French Polynesia. We spent two days recovering from this cosmic temporal confusion in Tahiti and were then ready to start island hopping in this archipelago. Getting to the airport turned out to be a good omen, as we hitchhiked with a retired, chatty Tahitian, with great admiration for Portugal, with whom we quickly became friends and who shared numerous tips and suggestions for the following days. We even agreed to meet again in 3 weeks, when we would return to the main island.


As soon as we arrived in Moorea we went for a swim at the public beach as we had to wait for check-in time. Twenty minutes of walking with our backpacks under the Polynesian sun wasn't easy, but it was worth it because the sea looked like a swimming pool, such was the colour and temperature of the water. But this one had corals, fish and even stingrays! After lunch, we tried hitchhiking again, as it seemed to be a good bet on these islands, and our budget was tightening... We didn't even wait 5 minutes and a local called Ronaldo was already taking us and dropping us off right in front of the stone path that led to our Airbnb. We settled in a cosy traditional bungalow and fell asleep to the sound of the rain, which didn't let up until the following afternoon. We didn't complain, because at this point what we really wanted was to rest. The bungalow had a terrace with a hammock, good Wi-Fi and a book that Ana Teresa had long wished to read. Rain can be such a bummer!


It ended up stopping and, after checking the nearest waterfall, we decided to go back to the same beach we went to on the first day. Once again, with our fingers outstretched, it didn't take long until a car with another friendly local stopped. His name was Vaiti and he belonged to the island's rugby team, which had just played against Tahiti, so it was time to celebrate with all the other players and their families at the same beach we wanted to go to. Perfect! He told us that the Tupa (crab in Tahitian) of Moorea are known for being the team that best welcomes their opponents, as regardless of the result, there is always a picnic on the beach after the game. And we too enjoyed a lunch sponsored by them, with beers included! Satisfied and refreshed after another swim, we were getting ready to go out and find another ride home, when Vaiti told us that a friend was also leaving and lived right near our airbnb. Once again, perfect! To our astonishment he then added "And she's Portuguese!". What do you mean!? The friend told us that her parents were Portuguese and had emigrated to France, and although they practically no longer spoke Portuguese, she had even studied in Lisbon, before moving to Tahiti and more recently to Moorea. Even more surprising was that the family was originally from Espinho, so we spent the rest of the way talking about Gaia, Miramar and even Praia do Senhor da Pedra. All this while on a small island in the middle of the Pacific. We repeat: the world is tiny.


On the last day, while giving us a ride to the airport, our host told us that Sunday was the day for people to sell food on the street, especially fish. ''Here they're selling bonito and over there, tuna. No bacalao!'' - he laughed as he told us about his trip to Lisbon a few years ago, where he practically only ate cod. “When we return to Moorea, we will bring you some cod!”, said Pedro. It's a good thing Ana Teresa was wearing sunglasses because that sentence made her think of all the places they've been to and wanted to return to one day, and all the people they've met, but at the same time how she was already missing Portugal and Norway. This last month of travel is making us nostalgic…